sábado, abril 02, 2005

Eu

Olho para o meu corpo e sinto-me prisioneiro de mim mesmo. No espelho vejo uma face branca que não é a que desejo e luto para não deixar de ser quem sou. Luto para o vermelho nos meus lábios não desaparecer, quero poder gritar ao mundo quem sou, quero dizer em voz alta que existe outra pessoa dentro de mim.

Lembro os tempos de criança e choro, lembro-me da roupa na minha mão e o reflexo sempre cruel que apenas me deixava sonhar. E caminhava pelo campo seco num dia de sol, caminhava com o suor a escorrer pelo meu corpo que crescia e me sufocava. Queria abraçar-me a mim mesmo, mas não tinha coragem, queria consolar-me, mas tinha medo.

Mas sabia que um dia iria crescer e teria de escolher, sabia que tinha de me enfrentar primeiro. E quando conseguisse vencer o homem em mim, poderia olhar para o mundo e dizer que não existo, poderia anunciar que o pequeno rapaz tinha conseguido voltar.

Volto a olhar para o espelho e sorrio. Só conseguimos ser felizes quando encontramos quem somos, quando compreendemos o brilho no nosso olhar e não o deixamos apagar-se. Só então somos livres.

Saio para a rua fria e penso em mim. Mais uma vez estou sozinho mas não me sinto perdido. Sei que descobri quem sou e tenho a companhia de todo o meu passado, sei que nem sempre vou sentir o conforto da noite, mas que neste momento o posso sentir enquanto o vento sopra com força.

Fecho o casaco por cima da pele nua e continuo a andar...

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