segunda-feira, maio 30, 2005

Sonho

Vivo dentro de um sonho de onde saio durante o dia
Vivo dentro de um sonho que me mostra a realidade
Vivo dentro de um sonho onde sou verdadeiro
Vivo dentro de um sonho confuso

segunda-feira, maio 23, 2005

A Melancólica Viagem...(Parte III)

E tu não apareceste...

Penso se não terás existido apenas na minha cabeça, nos sonhos que me afastam do dia-a-dia. Penso se não terá sido apenas o sonho mais real que alguma vez tive, um momento onde a realidade se fundiu com a fantasia e tudo pareceu fazer sentido.

Voo por cima das pessoas e tento procurar-te no meio da multidão. Nesta cidade cinzenta onde chove todos os dias sinto-me perdido entre os dois mundos onde vivo e não consigo perceber a qual deles pertenço. Tenho medo de começar a cair e misturar-me para sempre no meio dos outros...

Não tenho a certeza de qual é o caminho e continuo a voar enquanto todos me olham com inveja, enquanto todos olham para o céu. Mas a dúvida vive na minha cabeça e continuo a procurar o que não desejo, o que não sei se vou encontrar.

Perdido hoje, olho para Ontem para descobrir que vou sempre viver aqui, numa encruzilhada onde não tenho de escolher e posso apenas descansar encostado à árvore que marca o caminho.

Fim

quarta-feira, maio 18, 2005

No Metro

Vejo alguém sorrir a meu lado e não percebo porquê. Olho para os olhos azuis e vejo uma cara transformar-se por completo, como se não fosse a mesma pessoa, como se de repente a que estava à minha frente tivesse desaparecido e sido substituída por outra completamente igual, mas mais feliz.

Não existe contacto visual entre nós dois e posso observar aquele sorriso e tentar imaginar uma vida...


Outra Vida

Joana caminhava pela rua devagar e pensava na vida, pensava na ansiedade que não a largava nas últimas semanas e em toda a tristeza que tinha acumulada dentro dela. Era uma pessoa com uma vida normal mas que sentia precisar de algo mais. Esta angústia vinha dos tempos de criança, na altura tinha medo do mundo, tinha medo de coisas simples que a assustavam muito e deixava-se levar para um mundo de sonhos e fantasias.

Apesar de tudo tinha sido uma criança muita risonha e feliz, o problema começara quando crescera e os sonhos tomaram conta da sua vida. E quanto mais viajava por mundos cada vez mais incríveis, mais se afastava da realidade e das outras pessoas. Chegara aos trinta anos sem namorado, com poucos amigos e com uma família que via pouco, sentia-se sozinha e quando isso acontecia fugia para o seu mundo de faz-de-conta.

Naquela tarde de Setembro as árvores tinham uma cor muito bonita com o sol a bater nas folhas amarelas, um Outono que tinha chegado mais cedo, como se tivesse vindo fazer companhia aos pensamentos melancólicos de Joana. Estava triste e não sabia como mudar o que sentia, olhava para o mundo à sua volta e tentava que o bonito fim de tarde a ajudasse a sorrir.


Uma flor

Cansada de tanto andar, cansada de pensar, sentou-se num banco da sua rua preferida e observou as pessoas que passavam. Olhou para as pessoas que caminhavam depressa com uma expressão muito séria e riu-se para dentro pensando que deviam ir fazer alguma coisa muito importante, só isso podia justificar os semblantes tão carregados. Ela esperava não ser assim também aos olhos dos outros, esperava ser mais do tipo triste mas com um rosto simpático, o tipo de pessoa de quem todos gostam, era isso que queria ser.

De repente sentiu que alguém a observava, olhou para baixo e reparou numa miúda que não devia ter mais de três anos e que olhava para ela fixamente. Nas mãos tinha uma pequena flor amarela que agarrava com muito cuidado como se tivesse medo que ela caísse, como se estivesse a segurar algo muito valioso e que não podia ser substituído.

Disse-lhe olá e perguntou como é que ela se chamava, a única resposta que obteve foi um esticar de braços. Baixou a cabeça e olhou para a flor no meio de duas mãos pequenas sujas de terra, as pétalas eram amarelas e o centro da flor era cor-de-laranja e conseguia sentir o ligeiro perfume que ela deitava. Agarrou suavemente na flor com uma das suas mãos enquanto passava a outra pelo cabelo castanho da pequena. Ela esperou uns segundos e olhou-a como se pudesse ler os seus pensamentos e sorriu como nunca ninguém tinha sorrido para Joana, um sorriso que encheu a sua tarde.


Depois

Joana entrou no metro ainda a pensar no que tinha acontecido e em vez de fugir para os seus mundos, ficou apenas de olhos fechados a relembrar o sorriso que lhe tinham oferecido e do resto da tarde sentada num banco apenas a saborear a vida.

Reparou que a seu lado alguém a observava, estava a sorrir desde que entrara na carruagem e nem tinha pensado que não estava sozinha.

Olhou para o rapaz e sorriu para ele.

quinta-feira, maio 12, 2005

Futuro

Hoje

A campainha toca e eu sento-me no canto, sinto dificuldade em respirar e dói-me o corpo. Esfrego as luvas na cara e limpo o suor dos olhos enquanto reparo no meu adversário sentado do outro lado do ringue, tenho mais uma vez a sensação estranha de que o conheço.

Ouço o som e levanto-me com raiva, avanço em direcção a ele e tento bater-lhe com toda a força que tenho, a ligação que sinto a este homem que não conheço traz-me sentimentos de amor e ódio misturados, eu escolho o ódio e a multidão entra em delírio.


Ontem

Acordo numa cama lavada e pergunto-me onde estarei, só me lembro de estar à chuva e ao frio e de ter pensado que ia desmaiar. Tenho treze anos e vivo na rua desde que nasci, nunca tinha sentido o toque suave de uma cama, nem nos meus sonhos mais arriscados.

A porta do quarto abre-se e entra um homem de cabelo cinzento que me fala de forma calma. Diz que me encontrou inconsciente na rua e pergunta se eu aceito a ajuda dele, não consigo pensar, estou num mundo que não conheço. Sinto o cheiro da comida ao meu lado e percebo que a minha vida vai mudar, que as ruas vão ficar para trás, que vou esquecer o frio.


Hoje

Sou atingido com força no nariz e vejo o meu sangue cair no chão, tenho de esquecer o passado, não posso voltar agora, tenho de me concentrar na luta, tenho que esquecer a dor. Refugio-me nas cordas e com os braços à frente da cara sinto os golpes nas minhas luvas. Quero fugir mas não consigo, quero odiar quem me bate, mas não consigo deixar de sentir que o amo.

A campainha salva-me. Não olho para trás a caminho do meu canto, tenho medo do que vou encontrar, tenho medo de o olhar nos olhos. Tento ouvir o que me dizem, mas as palavras são abafadas pelo barulho das pessoas que gritam cada vez mais alto, demasiado alto, não sei se vou ter coragem de me levantar.


Ontem

O tempo passa e eu cresço num mundo novo, um mundo onde a ciência mudou a vida das pessoas. Mas não mudou a vida dos desgraçados que continuam a vaguear pela rua e que consigo ver por cima das nuvens. Encosto a cara à janela e tento perceber as formas que vejo ao longe.

Duzentos andares abaixo, outros como eu andam pelas ruas desertas, esquecidos do mundo tentam descobrir comida e refúgio, as duas únicas necessidades que sentem todos os dias das suas curtas e intensas vidas.


Hoje

Não me levanto, as recordações tomaram conta de mim e não tenho vontade de lutar. A meu lado alguém grita comigo, mas continuo de cabeça baixa a ver o meu suor juntar-se com o sangue. Quero sair deste lugar, mas sei que a multidão não me vai deixar, sei que ela me vai obrigar a lutar.

Olho por fim o meu adversário que está no meio do ringue. Olha para mim de forma triste, como se me pedisse desculpa, como se me quisesse ajudar. Reparo no seu corpo musculado e na sua cara jovem e tento descobrir quem é este homem que me leva de volta aos primeiros dias neste mundo.

Os segundos passam a correr mas eu sinto que tudo à minha volta corre devagar, como se o tempo passasse mais lentamente para todos os outros. Olho para os seus lábios e reparo que se estão a mexer, não consigo perceber as palavras no meio da confusão, mas o lábios continuam a dizer as mesmas palavras. O mundo está a parar à minha volta e eu esqueço tudo, deixo de ouvir o barulho que me ensurdece.

Compreendo o que ele está dizer e rebento de dor...


Ontem

Olho para ele e não entendo o que estou a ouvir, como é possível acabar assim? Nasci sem pai e nunca pedi nenhum, mas choro neste momento em que sei que o vou perder. Ouço histórias que não compreendo, ouço coisas que não me chocam mas que o fazem uma pessoa diferente da que conheço. Sei que não é a pessoa que julgo, mas não me importo e imploro-lhe que fique.

As minha últimas palavras são de ameaça, são de desespero e digo que vou mudar, que vou ter uma vida diferente da que ele me ajudou a sonhar. Sinto uma mão no meu cabelo e sem abrir os olhos ouço palavras simples que me dizem que tudo vai ficar bem.


Hoje

Parto para cima do monstro que vejo à minha frente, uma aberração que não devia poder existir. Bato-lhe com toda força e quero matá-lo, quero que ela sofra por tudo o que representa, pelo miúdo que perdeu os seus sonhos e pelos outros miúdos que não chegaram a sonhar, quero que morra.

Caio por cima dele sem forças, sinto a sua respiração e deixo-me ficar um segundo eterno no seu abraço terno. A multidão incita-me a pôr um fim ao combate, a pôr um fim a uma vida e penso que mundo é este onde vivo sem ter pedido. Não consigo ver os seus olhos, mas continuo a ouvir a sua voz que me suplica, que me pede algo em troca do passado, um pedido desesperado, um pedido que não posso aceitar.

Levanto-me e desisto, desisto desta luta, desisto deste mundo. À minha volta o silêncio repentino é rompido por alguns gritos de protesto. O sangue no chão nunca é suficiente, o sofrimento é um vicio que esta noite não foi satisfeito.

Não escolho nem o amor nem o ódio e pela primeira vez em anos saio para a rua...

quarta-feira, maio 04, 2005

Sono

Vejo um mundo desfocado à minha frente, tons de negro e cinzento que me tapam os olhos e me aprisionam. Uma música suave embala-me e luto para não dormir. Os sentidos dão-me uma imagem imperfeita do mundo à minha volta e tento encontrar um caminho no meio da luz fraca...

segunda-feira, maio 02, 2005

Ontem

Olho para trás e vejo a luz entrar pela janela. Passaram muitos anos mas ainda consigo sentir o prazer do sol a bater na minha cara enquanto descanso no seu colo. Sinto o ar quente que me faz voar os cabelos molhados e desejo ficar ali para sempre, protegido, aconchegado...amado.