terça-feira, abril 05, 2005

A Floresta

No meio da floresta agarro a tua mão e corro, fujo das sombras que nos perseguem. Sinto a força dos teus dedos no meus enquanto corres de olhos fechados e por um momento não sinto medo, mas continuo a correr pois não temos muito tempo.

Lembro-me de quando éramos novos e tudo era possível, lembro-me de quando sonhávamos com o futuro e com uma nova vida no meio das árvores que agora nos rodeiam. Hoje o sonho pode ser desfeito e por isso corremos mais depressa, corremos para que o futuro dos que nos rodeiam possa existir.

Deixo de sentir a tua mão na minha e procuro desesperadamente por ti. No meio dos troncos apenas vejo sombras e tento percebê-las, tento perceber se o fim está próximo, se iremos conseguir fugir do passado.

A escuridão cai sobre mim e apenas vejo silhuetas à minha volta, tento descobrir-te e imagino a tua angústia no meio do nada, imagino-te de mãos esticadas à procura de mim, chorando por mim.

Vejo o brilho dos teus olhos entre as árvores e as sombras em direcção a ti. Encho o peito de ar e em silêncio corro por cima da erva alta, passo sem ser visto pelas figuras negras e agarro a tua mão. Puxo-te para mim e abraço-te.

Ficamos escondidos em silêncio. A nossa respiração abafada é o único ruído que ouvimos e que tememos nos possa denunciar. Mas as sombras não nos descobrem e desaparecem por entre os ramos das árvores. Deitados no chão esperamos que o perigo passe durante tempo demais. Sabemos que o passado não pode voltar e que outros terão de percorrer o mesmo caminho.

Saio da sombra, fecho os olhos por causa da luz e tu sentes o ar fresco na cara. Sei que para mim não acabou tudo aqui, sei que ainda não estou livre e que um dia voltarei à floresta.

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