sábado, fevereiro 19, 2005

Happiness

Olhas para trás a sorrir e eu sinto-me perdido...

Hoje

Paro no cimo das escadas e olho para o tecto à espera de ver quando vai cair o próximo pingo de água. Todos os dias passo neste local e avanço sem medo, é a minha aventura diária, a altura em que desafio a sorte. Hoje, pela primeira vez em muito tempo, um enorme pingo de água suja cai em cima de mim e mancha o meu casaco. Sorrio e penso no que irá acontecer.

Entro no metro e sento-me enquanto tento escolher uma música no leitor de mp3 e procuro alguém que possa observar. À minha frente está uma rapariga a ler um livro forrado com um papel castanho que não me deixa perceber o nome do livro. Nunca percebi se a pessoas que forram os livros o fazem para não estragar as capas ou se é para que os outros não saibam o que estão a ler.

Finalmente acho uma música para aquele momento e olho fixamente para a rapariga. Não é muito vistosa, mas tem alguma coisa que me cativa. Acho que são os lábios que me fazem lembrar os da actriz do Lost In Translation. São o tipo de lábios que nos fazem fechar os olhos e imaginar o seu toque suave. Quase que consigo sentir o espaço curto entre nós e respiro fundo, sinto-me aconchegado.

Saio na mesma estação que ela e por breves instantes caminho ao seu lado como se estivéssemos juntos. Olho para as escadas e quando me preparo para subir os degraus a correr o livro solta-se das suas mãos. Agarro nele por instinto e devolvo-lhe com um sorriso. Ela agradece com uma voz doce que não consigo ouvir e durante uns segundos ainda consigo sentir a textura do papel castanho na minha mão, mas depressa estou a caminhar sozinho pelos corredores.

Viro à direita em direcção à rua e encontro-a outra vez a andar ao meu lado, escolhemos caminhos diferentes para chegarmos ao mesmo sitio. Ela olha para mim e abre a boca devagar para dizer alguma coisa, tenho tempo de tirar os auscultadores e ainda consigo ouvir a sua voz que me agradece a proeza do livro. Sorrio mais uma vez e os nossos caminhos separam-se outra vez.


Amanhã e depois...

No dia seguinte tento sair de casa à mesma hora, estou nervoso e penso se será possível encontrá-la. Tremo ligeiramente quando entro na carruagem e olho para todos os lados à sua procura, vejo um cabelo claro familiar e dirijo-me para ela. Sento-me à sua frente e pergunto-lhe que livro é que está a ler. Ela não me reponde e apenas olha para mim com um ar descontraído, pergunta como é que eu me chamo e eu digo que troco a resposta pelo nome do livro. Rimos os dois enquanto todos olham para nós.

Caminho ao seu lado e sinto-me feliz...

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