quarta-feira, agosto 01, 2007

Lua

A rapariga tinha um lenço feito de vermelho e branco. Atado atrás da cabeça, cobrindo-lhe quase todo o cabelo, escondia desenhos de luas nas dobras do tecido. A pele era escura, os olhos à noite eram pretos, de manhã acordavam azuis, um segredo revelado no meio do riso, um desafio que reflectia a luz de uma fogueira. Uma pedra brilhava no colo, uma jóia de lados iguais, que era impossível contar. Uma pergunta fez-me tremer, quando a mão já não era minha.
- Queres saber o que diz?
A voz traiu-me, no que não sabia.
- Quem é que te disse que eu quero saber o futuro?
Não suportei o olhar, que chegou antes das palavras.
- Eu não falei no futuro, eu não sei nada do futuro. Mas posso dizer quem és... achas que tens coragem?
A pedra rodou e mostrou o quarto crescente. Esqueci-me de mim. Gritei.
- Não te mexas! Por favor não te mexas, tens a lua presa dentro da tua pedra. Não é um reflexo, ela está mesmo lá dentro. Eu... eu não acredito...
Ela ficou quieta. Estava assustada, por saber, por não estar preparada. Mas não precisou de olhar para ver, o que ouvira em histórias antigas, o que era proibido ler. Fechou a minha mão antes de falar.
- Desculpa mas não posso, não tenho nada para te dizer.
Afastou-se meio passo, mas a lua continuava a brilhar. Eu queria ouvir.
- E fico sem saber quem sou?
Ela sorriu, ela apenas sorriu, segurando as lágrimas, apertando os lábios. Eu fechei os olhos no perceber. Aproximei-me. Descobri o seu cheiro.
- Porquê o medo?
- Não é medo, eu não tenho medo, mas...
Uma madeixa de cabelo soltou-se sobre a cara dela. Era áspero. Eu adivinhava os seus pensamentos.
- Mas não nos ensinam a acreditar.
- Não... não ensinam.
A lua escondeu-se entre nós.

1 comentário:

kolm disse...

... e cheira a noite morna, fogo e fumo… cheira a musica melodia e magia!!!

Deixo um sorriso grande!!