quinta-feira, janeiro 27, 2005

Não sei o teu nome

Conheci-a no Metro, uma mulher frágil com mãos envelhecidas que tive vontade de tocar. Inspirou em mim um desejo imediato de escrever e assim fiz.

Cheguei a casa e comecei a escrever sem pensar, criei-a sem saber que também estava a escrever sobre o meu futuro. Não sabia que ela ia ganhar vida, não sabia que me ia apaixonar... Escrevi de forma compulsiva, primeiro imaginando os seus olhos, a sua boca o seu corpo, depois a sua voz, o barulho do respirar e o seu cheiro. Imaginei a sua maneira de ser, a sua vida desde a infância, conheci todos os seus amigos, toda a sua família e todos que se cruzaram com ela. Tinha criado alguém que conhecia.

Foi numa noite chuvosa que passámos um pelo outro numa rua qualquer. Olhei-a nos olhos de forma provocadora e invadi o seu espaço, entrei na sua vida sem pensar no que poderia acontecer. Caminhámos juntos e falámos como se nos conhecêssemos, éramos um só e sentíamos antes de percebermos.

Continuei a escrever todos os dias, escrevi sobre todos os nossos encontros. Descrevi detalhadamente o que sentia quando estava com ela, confessei a mim mesmo os desejos que sentia, a angustia que crescia em mim, o amor que não tinha sentido mas que já não podia esconder. Sonhava acordado com ela e sofria ao mesmo tempo que sorria, sofria por saber a verdade, sofria por um amor que era impossível mas que existia, sorria porque existia.

Então um dia acordei, olhei à volta e tinha as paredes do quarto cobertas por centenas de folhas de papel escritas a lápis. Eram pequenos textos escritos por mim, a minha letra espalhada sem ordem, contando uma história de amor.

Tentei achar um sentido, uma forma de compreender o que tinha acontecido, mas eram demasiadas folhas, não era possível ordenar tudo o que ali estava escrito. No meio das palavras podia ver desenhos que me faziam tremer, como se naqueles pequenos esboços quase pudesse ver um olhar conhecido, uma mão que ainda sentia na minha, um cabelo que passava por entre os meus dedos. Estava tudo ali à minha volta e eu quase que conseguia compreender.

Voltei ao meu mundo, que também era o dela...

terça-feira, janeiro 18, 2005

De volta à floresta

Chamo por ti na escuridão...não sei se ouves este grito mudo que sai desesperado da minha garganta...

Grito...mas acho que ninguém me ouve e fico sozinho no meio da floresta onde cresci, toco nas árvores velhas e sinto nas mãos a casca áspera que me aconchega. Quero poder fugir deste lugar que me conhece, mas sinto-me preso, sinto que nunca vou conseguir gritar o suficiente para me libertar, nunca vou conseguir correr em direcção ao meu destino, à minha desgraça, à minha redenção.

Caio no labirinto sem fim, no meio dos ramos que sempre me cercaram e me amordaçam suavemente. O meu grito é abafado com o cuidado de uma mãe e sorrio ao mesmo tempo que choro. Não desisto de lutar mas os meus braços mexem-se devagar e ninguém ouve o meu grito, tal como eu não me consigo ouvir a mim mesmo. Eu não quero sair deste abraço, não quero deixar este sofrimento, é ele que me alimenta, é ele que me conduz.

Não sei o que vai acontecer e continuo a gritar sem que ninguém me ouça...talvez um dia descubra o caminho para fora da floresta ou talvez um dia consiga viver no meio das árvores...